"Toda Sexta-feira à noite começa o Shabat para a tradição judaica. Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção, inspirado no descanso divino no sétimo dia da Criação.
Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo.
A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa.
Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.
Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações 'para não nos ocuparmos'.
A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar.
E a incapacidade de parar é uma forma de depressão. O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições.
Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas.
Um divertido que não é nem bom nem ruim.
Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo...Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping.
A Internet e a televisão não dormem.
Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme.
As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhare perder, das informações e dos rumores, atividade incessante.
A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim. Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo.
Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa.
O futuro é tão rápido que se confunde com o presente.
Nossos namorados querem 'ficar', trocando o 'ser' pelo 'estar'.
Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI - um dia seremos nossos?
Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante.
Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco.
Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos...
Parar não é interromper. Muitas vezes continuar é que é uma interrupção.
O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair literalmente, ficar desatento.
É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida.
E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de Domingo.
Quem ganha tempo, por definição, perde.
Quem mata tempo, fere-se mortalmente.
É este o grande "radical livre" que envelhece nossa alegria o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.
Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares.
A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois.
A pausa é que dá sentido à caminhada.
A prática espiritual deste milênio será viver as pausas.
Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar.
Afinal, por que o Criador descansou?
Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído."
Rabino Nilton Bonder
Um comentário:
Oi Luciana
Amei esse texto a tal ponto que vou copiá-lo e colá-lo no meu blog!! Realmente o domingo anda precisando de um feriado...
bjos mil!!
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